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Aconteceu a 22 de maio de 1885



Morte de Victor Hugo

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Milhares de páginas – muitas delas presentes na internet – tentam transmitir ao leitor o valor da sua obra e os passos biográficos percorridos por este nome pujante da literatura francesa. Entre elas, O Leme recomenda a respetiva entrada sobre este autor na wikipédia e as excelentes críticas literárias que podem ser consultadas, em linha, no sítio da Biblioteca Nacional de Paris. A sua vasta obra pode ser baixada em inúmeros locais da internet, com especial destaque para o sítio gutenberg.org.

Referenciaremos, neste artigo, apenas alguns dos momentos mais significativos da vida de Victor Hugo, com especial destaque para aqueles que mais contribuíram para a realização da sua obra literária.

Victor Hugo nasce a 26 de fevereiro de 1802, na comuna de Besançon, em Doubs, dois anos depois de Napoleão ter chegado ao poder.

Os seus progenitores comungavam de ideias políticas e religiosas opostas: o pai Joseph Léopold Sigisbert Hugo, Conde de Siguenza, era um oficial do exercito que haveria de chegar ao posto de General de Napoleão, abraçava ideais Deísticos (acreditava na criação do universo por uma inteligência superior - que pode ser Deus, ou não - através da razão, do livre pensamento e da experiência pessoal) e era um convicto republicano para quem Napoleão era visto como um herói. Por outro lado, a mãe, Leopoldina, era uma radical católica defensora da casa real.

Victor Hugo acompanha o seu pai nas contantes viagens que este faz como oficial superior de Napoleão, ficando impressa na sua memória, entre outras, uma deslocação a Nápoles quando tinha seis anos de idade, que lhe permitiu conhecer os picos nevados dos Alpes, o azul do Mediterrâneo e as festividades que ocorriam, com frequência, na cidade de Roma.

A mãe de Victor Hugo, cansada das inúmeras viagens que tinha de efetuar para acompanhar o marido, resolve permanecer com o seu filho em Paris, transmitindo-lhe os seus ideais religiosos o o seu amor à causa real.

Os primeiros trabalhos de Hugo na poesia e na fição refletem uma apaixonada devoção tanto pela monarquia como pela fé católica, postura que só se altera mais tarde, durante os eventos que levaram à Revolução de 1848, que o impelem a rebelar-se contra a sua educação católica e monarquista, passando a advogar o republicanismo e o livre pensamento.

Tendo frequentado prestigiadas escolas privadas e tendo tido acesso a excelentes tutores, dedica-se, ainda muito novo, à escrita, revelando ser possuidor de uma inteligência precoce. Com apenas 15 anos de idade, é premiado pela Academia Francesa por um de seus poemas.

Em 1819, funda, com os seus irmãos, a revista Le Conservateur Littéraire, ganhando, no mesmo ano, o concurso da Académie des Jeux Floraux, uma prestigiada instituição literária francesa fundada no século XIV.

O seu primeiro livro de poesias, Odes et poésies diverses (Odes e Poesias Diversas), publicado em 1821, permite-lhe ganhar uma pensão concedida pelo rei Luís XVIII, que, entretanto, subira ao poder em França.

Um ano mais tarde, publica o seu primeiro romance Han d'Islande" (Hans da Islândia), que não obteria o êxito que o seu autor previa mas o seu casamento com Adèle Foucher, sua amiga de infância, atenua esse fracasso.

Eugène, Irmão de Victor Hugo, não gostou nada desse casamento porque há muito se apaixonara por Adèle. Como consequência, enlouquece, e é internado num hospício, onde acaba por morrer. Este acontecemento terá repercussões na sua vida pessoal e literária.

Em 1824, nasce a sua primeira filha a quem atribui o nome de Leopoldine, o mesmo da avó paterna. O seu falecimento precoce, iria ter um efeito profundo em Victor Hugo, que frequentará, durantes anos, sessões espíritas com o intuito de voltar a falar com ela.

Em 1825, cria, com outros escritores, o salão literário Cenáculo, recebendo, nesse mesmo ano, o título de Cavaleiro da Legião de Honra.

A publicação de Odes et Ballads, ocorrida em 1826, marca o início de um período de intensa criatividade.

O prefácio de Cromwell, publicado em 1827, marca, na literatura francesa, a passagem das restrições que impunham as tradições do classicismo para o movimento romântico.

O sucesso deste prefácio confere a Hugo a liderança do romantismo na França, tornando-o, apenas com 26 anos de idade, um escritor com uma situação material desafogada e com um enorme prestígio não apenas entre a juventude rebelde francesa, mas, igualmente, entre a corte do monarca de então, Carlos X.

Este período de aceitação geral teve pouca duração. Em 1829, a sua peça teatral Marion de Lorme, sobre a vida de uma cortesã francesa do século XVII, trouxe-lhe dissabores, tendo a mesma sido cancelada sob a alegação não apenas de ser demasiadamente liberal mas, sobretudo, por ter sido interpretada pelas censores como uma crítica a Carlos X.

Em 1830, a sua peça Hernani, exaltando o herói romântico em luta contra a sociedade, dá origem a inúmeras brigas e discussões por toda a França mas consagra Victor Hugo, em definitivo, como um autor romântico.

Nesse mesmo ano, a sua esposa Adèle, cansada da vida que levava, concede-lhe «liberdade para transitar por Paris». Victor Hugo aproveita bem essa concessão, passando a frequentar todos os bordéis de Paris e arranjando inúmeras amantes entre aristocratas, atrizes e simples costureiras, que em muito lhe permitiriam ter conhecimento da vida mais humilde da cidade, dando-lhe a matéria prima para a escrita das suas duas principais obras: Notre Dame de Paris e Os Miseráveis. Entretanto, a esposa, que lhe dera toda a liberdade mas não esperava tanta libertinagem, inicia um relacionamento amoroso com o amigo da família, Saint-Beauve.

Em 1832, Hugo muda-se para um apartamento instalado na Praça de Vosges, no bairro Le Marais, onde recebe escritores como Alfred de Musset, Honoré de Balzac, Alexandre Dumas e o compositor Franz Liszt.

Nesse mesmo ano, Victor Hugo apresenta em Paris a peça Le Roi S’Amuse, baseada na vida amorosa do rei Francisco I da França, que seria acusada de expor ao ridículo uma figura régia.

Victor Hugo, que durante a sua vida sempre procurara ajudar monetariamente os mais desfavorecidos, morre, a 22 de maio de 1885, tendo as prostitutas de Paris decretado um dia de luto. O seu corpo fica exposto, vários dias, sob o Arco do Triunfo, estimando-se em um milhão, o número de pessoas que lhe foram prestar uma última homenagem.

Correspondendo ao seu último desejo, os seus restos mortais são depositados num caixão humilde, encontrando-se o seu túmulo no Panteão Nacional de França.




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