
No início de 1964, a Câmara Municipal de Lisboa apresenta publicamente uma maqueta prevendo o prolongamento da Avenida da Liberdade através do Parque Eduardo VII.
Na altura, a ideia não constituía uma novidade, pois há muitos anos que se debatia o desejo de criar em Lisboa uma grande avenida, idêntica às existentes nas grandes capitais europeias1.
O Diário Popular, à semelhança de outros jornais da época, decide abrir um amplo debate sobre este tema.
Na sua edição de 12 de março, entrevista o conceituado arquiteto Conceição e Silva que afirma ser contra este projeto, pois iria destruir um dos poucos parques verdes que a cidade possuía na altura, sugerindo que, com esse dinheiro, se deveria construir infraestruturas que possibilitassem a realização de atividades desportivas e culturais para a população de Lisboa, nomeadamente exposições de livros e de esculturas, coretos, anfiteatros e espaços para os jovens jogarem a bola, retirando-os das ruas da cidade2.
Fonte: Diário Popular nº 7691, de 12-03-1964, 22º ano de publicação, pp. 1 e 13
1 Recomenda-se a leitura do livro Os Planos da Avenida da Liberdade e seu Prolongamento, de Filipe Roseta e João Sousa Morais, edição/reimpressão 2006, Livros Horizonte, ISBN 9789722414074, Colecção Cidade de Lisboa.
2 As sugestões apresentadas em 1964 por este arquiteto acabariam por se concretizar anos mais tarde. Na altura, as únicas infraestruturas lúdicas existentes no parque Eduardo VII eram o Pavilhão dos Desportos, aqui aberto ao público em 1932 (depois de ter estado presente na Grande Exposição Internacional do Rio de Janeiro de 1922) e a "Nave", uma enorme sala construída em 1957, na Estufa Fria, por baixo da alameda do Parque, usada, durante muito tempo, como teatro municipal.
Posteriormente, foram sendo edificados outros recintos desportivos no lado ocidental, posteriormente desativados.
A partir dos anos novecentos e oitenta, o espaço por onde deveria passar o prolongamento da Avenida da Liberdade passa a ser ocupado pela Feira do Livro, realizada com periodicidade anual, por diversas exposições de escultura ao ar livre, como a de Brotero e por outros eventos de caráter lúdico.
Nos nossos dias, um eventual prolongamento da Avenida da Liberdade através do Parque Eduardo VII seria considerado uma agressão ambiental.
Estamos a reunir, num único local, os artigos sobre Engenharia, Arquitetura e Urbanismo que têm vindo a ser publicados, com regularidade, no âmbito das Efemérides.