A 7 de março de 1963, morre, em Lisboa, Maria Isabel Aboim Inglês.
Foi diretora do Colégio Fernão de Magalhães e professora da Faculdade de Letras de Lisboa, onde lecionou História Antiga e Moderna e Psicologia Experimental.
Viúva, com cinco filhos, entregou-se sempre à luta pela liberdade, tendo levado uma vida de grande dignidade e coragem.
Foi vítima de várias prisões arbitrárias e, por diversas vezes, barbaramente torturada pela PIDE, polícia política do Estado Novo.
Uma vida de dignidade e de coragem exemplares
Extrato de um artigo publicado no Jornal O Diário, em 1984.
Autores: Isabel César Anjo e Alberto Pedroso
Maria Isabel Hahenman Saavedra de Aboim Inglês nasceu em Lisboa, na Rua Nova do Loureiro, no Bairro Alto, em 7 de Janeiro de 1902 e faleceu nesta cidade a 7 de Março de 1963.
Maria Isabel cresceu, brincou e estudou em Lisboa. No Liceu Pedro Nunes tirou o curso complementar de Letras. Foi aí que conheceu o jovem Carlos Aboim Inglês, com quem veio a casar-se aos 20 anos.
Inteligente, culta, espírito aberto ao mundo e à cultura, depois do 5º e último filho, matriculou-se na Faculdade de Letras de Lisboa, tirando, com resultados brilhantes, o curso de Ciências Histórico-Filosóficas. Um dos professores convidou-a para assistente na Universidade mas, com cinco filhos pequenos, viu-se obrigada a recusar. Dois anos depois, apresentou a tese de licenciatura sobre «A Influência dos Descobrimentos na Sociedade Portuguesa», ao mesmo tempo que fundava o Colégio Fernão de Magalhães, na Rua dos Lusíadas.
diretora e professora do colégio, Maria Isabel foi para os alunos uma companheira mais velha e mais experiente, compreensiva e humana, ensinando e respeitando a liberdade de cada um e a coletiva.
Foi dirigente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, depois da Associação Feminina Portuguesa para a Paz e, quando o general Norton de Matos foi candidato à Presidência da República, percorreu o país de lés-a-lés, falando em assembleias populares realizadas em quase todas as cidades.
Tanto a temiam e perseguiam que, uma vez, em campanha, quando se preparava para discursar, a polícia ameaçou-a de que se falasse prenderia o seu filho. O amor aos filhos e o respeito pela sua dignidade pessoal e cívica, nela não tinham limites. Maria Isabel falou, e o Carlos foi preso.
Proibiram-lhe as aulas de História e de Filosofia na Universidade; tempos depois, afastaram-na de assistente, fecharam-lhe o colégio e impediram-na de prosseguir o curso de Sociologia que mantinha na Escola de Enfermagem. Retiraram-lhe os diplomas de professora do ensino oficial e do particular.
Antes, aos 44 anos, haviam-na prendido pela primeira vez, voltando a ser encarcerada dois anos mais tarde.
Impedida de lecionar, montou um atelier de modista, deu aulas particulares, fez traduções, etc.
Em 1953, uma Universidade brasileira convidou-a para lecionar Filosofa.
E foi quando se deslocava no seu pequeno carro, de casa de uma aluna para a de outra que a morte lhe chegou. Foi na Av. Estados Unidos, em Lisboa. Serenamente, encostou o carro e fechou os olhos para sempre. Foi numa quinta-feira à tarde, 7 de Março de 1963. Fizera há pouco 61 anos.