
A 18 de fevereiro de 1899, nasce, em Vila Real de Santo António, o poeta popular António Aleixo.
Homem simples e semianalfabeto, fazia espontaneamente versos repletos de ironia e crítica social, sendo considerado um dos mais relevantes poetas populares portugueses.
Os quatro versos do poema a seguir transcrito sintetizam na perfeição a sua vida:
Fui polícia, fui soldado,
estive fora da nação;
vendo jogo, guardo gado,
só me falta ser ladrão.
Estas quadras são aqui transcritas com o intuito de incentivar os leitores do magazine sem fins luctrativos O Leme a ler a obra completa deste poeta, adquirindo exemplares dos livros que nos deixou.
Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.
Para não fazeres ofensas
E teres dias felizes,
Não digas tudo o que pensas,
Mas pensa tudo o que dizes.
O mundo só pode ser
Melhor que até aqui,
- Quando consigas fazer
Mais p'los outros que por ti!
P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
Embora os meus olhos sejam
os mais pequenos do Mundo,
o que importa é que eles vejam
o que os homens são no fundo.
És feliz, vives na alta
e eu de ratos como a cobra.
Porquê? Porque tens de sobra
o pão que a tantos faz falta.
Quem nada tem, nada come;
e ao pé de quem tem comer,
se disser que tem fome,
comete um crime, sem querer.
Uma mosca sem valor
poisa c’o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
De vender a sorte grande,
confesso, não tenho pena;
que a roda ande ou desande
eu tenho sempre a pequena.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a razão, mesmo vencida
não deixa de ser Razão.
Co'o mundo pouco te importas
porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê o seu proveito?
À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.
Não é só na grande terra
que os poetas cantam bem:
os rouxinóis são da serra
e cantam como ninguém.
Ser artista é ser alguém!
Que bonito é ser artista...
Ver as coisas mais além
do que alcança a nossa vista!
Nunca gostei de mentir,
Mas faço bem quando minto,
Fazendo a outros sentir
Esp'ranças que já não sinto.
Eu não tenho vistas largas
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.
Até nas quadras que faço
Aos podres que o mundo tem,
Sinto que sou um pedaço
Do mesmo podre também.
Estamos a reunir, num único local, os artigos sobre Literatura que têm vindo a ser publicados, com regularidade, no âmbito das Efemérides.