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UMA VOCAÇÃO

Uma história passada em Portugal na década de 1950


Autor
JORGE FRANCISCO MARTINS DE FREITAS

Excerto

Um laço branco colocado na cabeça coroava a formosa face de Teresa, valorizada por uns penetrantes olhos castanho-escuros e um rasgado sorriso. Uma alva bata coberta, nos meses mais frios e chuvosos, por um espesso casaco de lã e umas botas de borracha negra, constituíam a sua indumentária. Na mão esquerda, segurava uma pequena cesta com pão e peças de fruta para se alimentar durante o dia e, na mão direita, balouçando ao sabor de graciosas passadas ou apressadas corridas, levava uma mala de cartão com livros e cadernos por si tratados com todo o esmero.

Todas as manhãs, de segunda a sábado, saía muito cedo da casa onde residia com os pais, situada num monte a alguma distância da vila. No caminho, encontrava-se com outras meninas que também seguiam para a escola primária, aproveitando esses momentos para uma alegre confraternização.

Ao entrarem na sala de aulas, as crianças cumprimentavam sempre a professora com o maior respeito. Para grande parte delas, era uma experiência nova: pela primeira vez iam para uma escola estudar. Algumas vinham a pé, de montes longínquos, descalças, mal alimentadas, por vezes encharcadas pela chuva dos rigorosos meses de inverno, socorrendo-se da lareira existente no pátio da escola para se enxugarem.

A professora, já muito idosa, mal se conseguia mexer devido a um excessivo volume corporal que a obrigava a usar duas cadeiras, colocadas lado a lado, para se sentar. Há muito que deveria ter-se reformado, mas, naquela época, os professores tinham de trabalhar até mais não poder, para conseguir sobreviver.

Naquele outono, Teresa, que iria fazer sete anos dentro de alguns dias, estava radiante: já sabia ler e escrever um pouco e era dotada de uma grande vontade de estudar cada vez mais, incentivada pelo avô, um pequeno lavrador autodidata, que lhe havia ensinado as primeiras letras.

A professora, ao constatar que aquela criança já estava mais adiantada em relação às colegas, passa a chamá-la ao quadro com grande frequência, disponibilizando-lhe o estrado de cortiça onde apoiava os pés. Desta maneira, a jovem aluna podia colocar-se sobre ele de modo a escrever um pouco mais para cima na escura ardósia colocada na parede. Porém, a reduzida estatura que a criança possuía apenas lhe permitia desenhar caracteres a meio da altura do quadro.

Este excerto faz parte do livro de contos ENTRE PARAGENS, já disponível em livrarias de Portugal e do Brasil.

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